Poema (A Nota)


Onde está a calma deste mundo?
Onde está o sossego? Onde está o sono?
Onde está a infância sem crime?
Onde está a namorada de velocípede?
Onde está o pátio com as andorinhas e a fonte?
E o rio de tua meninice? E as tardes de maio?
E as primeiras estrelas surgindo lá em cima da serra?
E os sonhos que penetravam pelas pálpebras?
E as sombras na parede? E o velho candeeiro familiar?
Isso tudo onde está? Isso tudo onde está?
O seio frio dos poços contém calma.
As chamas destruidoras contêm calma.
Os lagos dos suicidas contêm calma.
Mas vês essas mãos perfuradas de cravos?
E essas chadas sangrando? E esse peito arrombado?
E esse olhar compassivo? E esse Deus moribundo?
Tudo para te dar calma! Tudo para te dar calma!
(Jorge de Lima, 1936)

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